O Retrato de Ricardina - Cap. 24: CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO Pág. 147 / 178

CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO

Primeiro enleio da viscondessa: a mãe de Alexandre Pimentel era uma senhora ainda bela, sem impedimento de alguns cabelos alvejantes, não raros, aos 30 anos. Ricardina tinha 40. Era a formosura inflexível ao dilacerar da desgraça. A expectativa de Matilde figurava-lhe uma velhinha, carcomida da traça dos 70. Outra surpresa: a mãe do escritor, dado que trajasse vestido fora do uso e humilde no estofo, recebeu-a com ar tão senhoril e de primoroso trato que não se estremava das marquesas das suas relações.

- Foi uma indiscrição talvez o incómodo que lhe dei... - tartamudeou a fidalga, enquanto Ricardina a remirava de chapa, exprimindo o íntimo alvoroço. - Queira sentar-se; minha senhora, e peço-lhe que desculpe a minha turvação.

- Temos de nos desculpar uma à outra - disse Ricardina com a voz tremente. - Se alguma de nós deve estar comovida, sou eu.

Saltaram-lhe as lágrimas; porque Matilde era o retrato de Eugénia Pimentel.

- Porque chora, minha senhora? - acudiu a viscondessa, tomando-lhe as mãos enternecida.

- Conheci uma senhora que era o retrato de... de vossa Excelência - proferiu a custo Ricardina. - Fez-me muito vivas saudades, porque é já morta... Chamava-se Eugénia.

- Como? Eugénia!... A minha mãe também se chamava Eugénia.

- A minha amiga era a mãe da vossa Excelência - afirmou Ricardina.

- A senhora conheceu a minha mãe?! - disse Matilde.

- Como se conhece uma irmã. Fomos tão amigas... que se hoje nos encontrássemos apenas poderíamos conversar chorando.

- Mas onde conheceu minha mãe?! Ela nunca saiu da Beira!

- Bem sei, minha senhora. Saiu da abadia de Espinho, onde nasceu, para a casa dos Pimenteis da Reboliça, onde morreu.

- Jesus! Como sabe a senhora estas coisas?!.





Os capítulos deste livro