Sim, porque se começarmos a ensinar as grandes massas de povo a consumar uma auto-realização individual, depois de tudo dito e feito veremos, de facto, que elas não passam de criaturas fragmentárias, incapazes de alcançar por inteiro a sua individualidade; que acabaremos por torná-las invejosas, rancorosas e malévolas. Quem é generoso para com os homens, conhece o carácter fragmentário da maior parte e deseja organizar uma sociedade de poder onde todos os homens cedam, como é natural, a uma totalidade colectiva por serem incapazes de formar uma totalidade individual. Poder-se-ão realizar nesta totalidade colectiva. Contudo, se fizerem esforços para chegar à realização individual estarão fadados a fracassar já que são, por natureza, fragmentários. E fracassados, sem poderem dispor de nenhuma espécie de totalidade, cedem à inveja e ao rancor. Jesus sabia perfeitamente que isto era assim quando disse: aos que têm será dado, etc. Esqueceu-se, porém, de contar com a massa dos medíocres cujo lema é: como nada temos, ninguém terá nada.
Jesus trouxe no entanto consigo o ideal cristão do individual, e evitou deliberadamente transmitir um ideal de Estado ou de nação. Quando disse: «Dai a César o que é de César», com vontade ou sem ela atribuía a César o poder sobre o corpo do homem; e isto era ameaça de um terrível perigo para a mente e para a alma humanas.