Enfim, chegou João Semana ao lugar onde se erguiam os seus solares.
A égua saudou a aparição dos telhados domésticos com a mais melodiosa das suas emissões de voz.
O próprio João Semana não foi insensível à perspectiva, que o dobrar do último cotovelo de uma rua tortuosa lhe patenteou; porque o seu estômago tinha também necessidades, que, como todos os outros, manifestava. Ao aproximar-se, recebeu, porém, uma desagradável impressão.
Avistou encostado à porta da casa o criado de uma freguesa sua, o qual provavelmente vinha requisitar-lhe a assistência e talvez com toda a pressa. Tais estorvos, à hora do jantar, eram da maior impertinência para João Semana. Doente que lhe quisesse fazer a vontade, não devia adoecer a hora tão crítica.
O seu pressentimento saiu verdadeiro. Ainda ele se não desmontara e já o criado, que o esperava, lhe dizia, com grande impaciência do facultativo:
- A Sr.ª D. Leocádia mandou-me esperar aqui por V. S.ª para lhe pedir o favor de ir, logo que chegasse, a casa dela.
- Quem está lá doente?
- Não sei dizer a V. S.ª - Pelo costume, é toda a gente. Todos se queixam, pelo menos, quando eu lá vou. E... vamos a saber, e é de pressa?
- Julgo que sim, senhor, visto que me mandaram esperar.
- Isso não tira. Seria para se verem livres de ti, e parece-me que têm razão.
- Ora, isso é graça.
- É graça é, mas... Vamos lá ver o que quer a Sr.ª D. Leocádia.
A falar a verdade... a esta hora... Valha-me Deus, valha. - E, voltando- se para o criado pequeno, que viera ajudá-lo a desmontar, continuou, suspirando:
- Deixa estar, Miguel, deixa estar. Eu... como assim, não me desmonto. Torno a sair.
Mal acabara de dizer estas palavras, correu-se uma vidraça do andar superior, e a cabeça de uma velha criada, convenientemente armada de largo pente de tartaruga, assomou à janela.