As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 19: XIX Pág. 131 / 332

ª Joana.

- Pois que esperem, Sr. Miguel. O patrão está a dormir, e eu não o vou acordar, por causa disso. De mando de quem vem?

- Diz que das do Meadas.

- Ai, então é a pedir por algum pobre. Não fazem outra coisa as raparigas. Têm vagar. Destas fortunas é que nos aparecem. Mas a carta não vem fechada... Ó menino, então leia-a.

- Porém... - ia a observar Daniel.

- Não tem dúvida, pode ler. Isto não é de segredo.

Obedecendo às instâncias de Joana, Daniel abriu a carta e leu:

«Meu bom Sr. João Semana:

- Isso - anotou a criada. - Façam-lhe a boca doce.

Daniel continuou lendo:

«O nosso pobre doente está mal, muito mal. Corta o coração vê- -lo padecer assim. Se não for possível salvá-lo, ao menos que se não veja desamparado ao morrer. É tão compadecido o seu coração, Sr.

João Semana, abre-se tão depressa à caridade, que me atrevo a pedir-lhe que venha ver este desgraçado. A consciência lho pagará.

Da sua respeitosa amiga, Margarida» - Bonitas palavras! - disse Joana - não tem dúvida nenhuma; o pior é que se não aduba o caldo com elas.

- De quem é esta carta? - perguntou Daniel. - Eu já ouvi este nome de...

- Olhem quem o pergunta! Pois de quem é ela, homem de Deus, senão da irmã de sua cunhada, da que há-de ser?

- Ah! bem me parecia. Mas... da irmã! e ela escreve assim? - continuou Daniel, admirado da boa ortografia e singeleza de frase da carta, que tinha na mão, e para a qual tornou a olhar.

- Pois que julga que é essa rapariga? Bem digo eu, que o menino já se esqueceu de todo da terra. Então saiba que não há aí quem se ponha ao lado da Margarida, em falar e escrever. Este homem, por quem elas pedem... - e, interrompendo-se: - É verdade, ó Miguel! - disse para o criado - vai dizer que ficou entregue, anda.





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