As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 19: XIX Pág. 130 / 332

- Ih! que dinheirão!

- Então acha pouco?

- Está claro. Mulher com menos de quarenta contos, Joana, não me serve.

- Quarenta contos? Quanto é quarenta contos?

- São cem mil cruzados.

- Credo! O que aí vai! Então não casa decerto, também lhe digo.

- Se não encontrar cá, trago mulher da cidade. Olhe que são mais bonitas. Uma senhora, que saiba tocar piano, que saiba cantar, que ande à moda.

- Sume-te! Sempre as tais modas! É no que eles pensam. Ora que graça acham àquelas coisas?

- Você não sabe o que diz, Joana. Ainda hei-de vê-la andar à moda, a si também.

- A mim?

- A si, sim, minha senhora, e então porque não?

- Alguma estará nesse dia para suceder.

- Mas olhe cá, Joana, e quando você me vir passear de braço dado com a minha senhora, ela com vestido de seda a arrastar pelo chão...

- Isso! Olhe que há-de ficar em bom estado. Passeie pelo tojo e verá.

- Um pé muito pequenino; eu gosto dos pés muito pequeninos, Joana.

- Também muito pequenos demais não servem para andar.

Quer-se em termos.

- Nada; quero-os muito pequeninos; e depois uma vozinha que mal se perceba.

- Ora essa! Então não se há-de ouvir o que ela diz?

- Vocês cá não têm nada disso.

- Isso não. O pé mais pequeno que eu conheço... é o da filha do Mateus que teve, salvo seja, um raminho em criança e ficou aleijadinha..., e agora voz que se não perceba... olhe, tem a ti’Ana do regedor que, desde que lhe caiu aquela constipação no peito, ninguém lhe entende palavra.

Neste ponto do diálogo, entrou o Miguel, rapaz de serviço da casa, com um bilhete na mão.

- Sr.ª Joana - disse ele - vieram entregar este bilhete para o patrão.

- Temos mais alguma impertinência. Está bom; deixa ficar.

- É que esperam pela resposta, Sr.





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