- Ih! que dinheirão!
- Então acha pouco?
- Está claro. Mulher com menos de quarenta contos, Joana, não me serve.
- Quarenta contos? Quanto é quarenta contos?
- São cem mil cruzados.
- Credo! O que aí vai! Então não casa decerto, também lhe digo.
- Se não encontrar cá, trago mulher da cidade. Olhe que são mais bonitas. Uma senhora, que saiba tocar piano, que saiba cantar, que ande à moda.
- Sume-te! Sempre as tais modas! É no que eles pensam. Ora que graça acham àquelas coisas?
- Você não sabe o que diz, Joana. Ainda hei-de vê-la andar à moda, a si também.
- A mim?
- A si, sim, minha senhora, e então porque não?
- Alguma estará nesse dia para suceder.
- Mas olhe cá, Joana, e quando você me vir passear de braço dado com a minha senhora, ela com vestido de seda a arrastar pelo chão...
- Isso! Olhe que há-de ficar em bom estado. Passeie pelo tojo e verá.
- Um pé muito pequenino; eu gosto dos pés muito pequeninos, Joana.
- Também muito pequenos demais não servem para andar.
Quer-se em termos.
- Nada; quero-os muito pequeninos; e depois uma vozinha que mal se perceba.
- Ora essa! Então não se há-de ouvir o que ela diz?
- Vocês cá não têm nada disso.
- Isso não. O pé mais pequeno que eu conheço... é o da filha do Mateus que teve, salvo seja, um raminho em criança e ficou aleijadinha..., e agora voz que se não perceba... olhe, tem a ti’Ana do regedor que, desde que lhe caiu aquela constipação no peito, ninguém lhe entende palavra.
Neste ponto do diálogo, entrou o Miguel, rapaz de serviço da casa, com um bilhete na mão.
- Sr.ª Joana - disse ele - vieram entregar este bilhete para o patrão.
- Temos mais alguma impertinência. Está bom; deixa ficar.
- É que esperam pela resposta, Sr.