As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 23: XXIII Pág. 158 / 332

da mesma forma as bocas ao mundo, que tanto falou do derriço da sua filha com o filho do sineiro? Porque se lhe não deu que elas tagarelassem, por ocasião da festa do Coração de Jesus, quando o Bento do padeiro não tirou os olhos dela e ela dele, durante toda a santa festa? Porque fez ouvidos de mercador, quando o Sr. Padre António lhe disse que casasse a rapariga com o Chico, sapateiro, para não dar que falar a cegueira em que ela andava com ele? Ai, então não quis; nem lhe importaram as línguas chocalheiras? Chegaram-lhe agora as febres. Pois veio bater a má porta. Sossegue. Não tenha susto. Homens, que fazem versos, não são os piores. Contentam-se com isso. Sabe que mais? Meta a viola no saco; retese a corda à cachopa e deixe correr.

- Isso não é resposta que se dê, Sr. José - exclamou o tendeiro, que via prestes a fugir-lhe uma óptima ocasião de negócio.

- Não se zangue, Sr. João. Amigos como dantes. Pensemos em outra coisa. Está um tempo muito criador.

- Sr. José, isto não vai assim.

- Não me mortifique, Sr. João; para que não vá pior. Os milhos...

- Sr. José!

- Não berre, vizinho.

- Eu quero ver...

- Pois abra os olhos. Mas..

- Quero ver se é capaz...

- Sr. João, vá para casa.

- Sr. José das Dornas! Veja o que faz.

- Estou vendo.

- Repare bem para mim.

- Estou reparando.

- Saiba que eu sou...

Não pôde dizer o quê. Interrompeu-lhe o discurso o reitor, que entrou na sala. Vendo o aspecto dos dois interlocutores e a vivacidade do gesto do tendeiro, o padre quis saber a razão da contenda.

João da Esquina desanimou em presença do reitor. Agourou mal a intervenção.

Depois de ouvir as queixas do tendeiro, o reitor perguntou-lhe, com rosto severo, se o casamento da filha com o empreiteiro das estradas não viria reparar mais falhas na inteireza da sua boa fama doméstica.





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