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- Que faça versos à Lua e ao Sol, se quiser - dizia João da Esquina - não há-de tirar disso grande proveito, mas que os faça, que os faça; agora andar a inquietar famílias e...
- Tem razão, vizinho, tem razão, e eu lhe prometo...
- Abusar da confiança de um homem, como eu!
- Tem muita razão, vizinho...
- Fazer andar à roda a cabeça de uma rapariga de juízo!
Neste ponto José das Dornas engoliu em seco, mas não deixou de repetir:
- Tem toda a razão, vizinho...
- É um desaforo!
- Não o nego, Sr. João, não o nego.
- Não é homem em quem a gente se fie.
- A falar a verdade... não é, não, não é.
- Enfim, Sr. José - continuou o tendeiro com ar resoluto, e, depois de uma pausa, concluiu: - É forçosa uma satisfação!
- Eu lhe prometo que o rapaz não volta lá.
João da Esquina fez um gesto de quem se não lisonjeava com a promessa.
- Não é isso que eu digo.
- Então?
- O vizinho sabe o que são bocas do mundo?
- Sim; e depois?
- O que são línguas chocalheiras?
- Sim; e daí?
- O que são...
- Vamos; adiante.
- Pois bem; para as fazer calar, é preciso...
- É preciso o quê?
- É necessário...
- É necessário o quê?
- É indispensável...
- O quê, Sr. João, o quê? - exclamou o lavrador, já impaciente.
- O que é necessário?
- Que seu filho...
- Que meu filho?
- Case...
- Com a sua filha, não?
- Está bem de ver.
Com grande escândalo do tendeiro, o José das Dornas pôs-se a cantarolar:
Ai, la ri lo lé la, Eu vou pela mansidão.
- E foi para isso que teve o trabalho de vir aqui? Ora olhe, Sr.
João: nós somos conhecidos antigos e eu macaco velho, como deve saber, que já me não deixo levar por essas. Aqui para nós, porque não tapou o vizinho