- Deixe lá, Sr. João, olhem a grande coisa! - respondia a criada. - Ora! afinal de contas, não passa de uma brincadeira.
Fosse a rapariga seriazinha, não tivesse aquela cabeça que todos nós sabemos, que já nada disso acontecia.
- Ela não é que tem a culpa.
- Não tem? Pois quem? Ele? Não que ele é rapaz. Nada lhe fica mal.
- Que diz você! Nada lhe fica mal! Então um cirurgião ou um médico pode lá ter essas liberdades? Onde é que se viu um homem na nossa posição fazer versos? Não tem vergonha.
- Ora adeus! São rapazes.
- E a dar-lhe! São rapazes, são rapazes, e acabou-se. Boa desculpa!
Essas e outras é que deitam a perder a classe.
- Mas que perde o Sr. João Semana com isso?
- Que perco?!
O facultativo, por mais que fez, não conseguiu efectivamente dizer o que perdia; por isso, passado algum tempo, continuou:
- Não é bonito aquilo, não; não é.
- Pois sim, não digo que seja; mas com os anos passa-lhe o fogo. Verá.
Em geral, nos tribunais femininos, os delitos da natureza daqueles, de que João Semana acusava Daniel, são julgados como Joana acabava de julgar este. Grande magnanimidade para com o homem, e severo rigor para com a mulher. Entrem lá na explicação do facto os que o tiverem estudado. Eu, por mim, registo-o apenas.
Houve longa discussão entre a criada e o amo, a este respeito, discussão que não deu em resultado a vitória a nenhum dos contendores - facto vulgar em quase todas as discussões. - Ela suscitou, porém, em Joana o desejo de se informar melhor das particularidades do delito e da extensão dele.
Em cumprimento deste desejo, tomou a criada de João Semana a sua capa de pano, e partiu, logo que pôde, a colher noções.
Depois de muito andar,