As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 31: XXXI Pág. 224 / 332

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- Esta vida da aldeia!... - exclamou Daniel, em tom de supremo enfado. - Esta vida de mexericos e de maledicências velhacas! Praga maldita das terras pequenas, onde faltam coisas sérias em que pensar! Ora vejam no que esta gente se ocupa! em saber o que eu faço, como vivo, para onde vou, com quem converso; e isto entretém-na! Então repararam já em eu passar por aqui?

Como se não fosse coisa muito natural, conversar consigo, Clarinha.

Pois não somos nós parentes quase?

- Isso dizia eu à...

Um sinal de Margarida obrigou-a a interromper-se. Limitou-se a dizer, mutilando a frase e mudando de inflexão:

- Isso dizia eu.

- Afinal, não há como viver na cidade - continuava Daniel. - Lá pode um homem conversar com uma senhora, apertar-lhe a mão até, que ninguém repara nisso. Aqui, andam a espiar tudo que se faz e a tomar tudo a mal. Que costumes estes!

E Daniel prosseguiu numa longa imprecação contra a vida campestre, exaltando a urbana, o que demorou, ainda por muito tempo, a conversa.

No fim dela, renovou Clara o pedido e conseguiu que Daniel, depois de alguma resistência, lhe dissesse a sorrir:

- Pois bem; esteja certa de que eu farei com que não falem de mim. Não me hão-de ver mais aqui.

E partiu.

- Estás satisfeita? - perguntou Clara, voltando-se para a irmã, logo que o perdeu de vista.

- Não - respondeu esta.

- Porque não?

- Queria que fosses tu a que deixasses de aparecer e não lhe falasses assim.

- Por outra - tornou Clara, levemente despeitada - querias que eu fosse grosseira.

- Não - respondeu Margarida, abraçando-a - queria que fosses prudente.





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