Era Daniel.
- Olha; falai no ruim... - disse ela para Margarida, que instintivamente retirou a cadeira da janela.
- Vais ver - prosseguiu Clara - como eu sou amiga de fazer vontades. Vou acabar com isto, já que assim o querem... isto é, já que assim o queres; pois dos outros bem me importava a mim.
- O melhor é... - ia a dizer Margarida, quando a voz de Daniel, falando da rua para a janela, a obrigou a calar.
- Muito boas-tardes, Clarinha - diz ele. - Receava não a ver já hoje, por isso obriguei este pobre animal a um trote por estes caminhos de cabras abaixo, que muito pouco lhe agradou.
- Então tinha que me dizer?
- Nada. Era para não perder o meu dia. Quando vi fechadas as folhas da mimosa da Quinta da Freira, temi vir encontrar já fechada também a sua janela, Clarinha.
- Era pena! - disse Clara, sorrindo e depois, debruçando-se ao peitoril, acrescentou, lançando com disfarce um olhar para a irmã: - Tenho a pedir-lhe um favor, Sr. Daniel.
- Que felicidade para mim! Diga.
- Quando, de hoje em diante, voltar para casa, não há-de vir por este sítio.
- Clara! - disse Margarida em voz baixa, puxando pelo vestido da irmã.
Clara não a atendeu.
- Porque me faz esse pedido? - perguntou Daniel admirado.
- Porque, segundo me dizem, deram-lhe para reparar por aí nestes seus passeios e então, para não inquietar o mundo...
- Clarinha, que estás a dizer! - murmurava Margarida, escondendo-se por detrás da irmã.
Clara fingia não ouvi-la.
- Tenho-a ofendido por acaso alguma vez? - perguntou Daniel.
- Em coisa nenhuma. Bem vê que eu digo que é pelo mundo...
- Então, deixe falar o mundo.
- Não é tanto assim. Talvez o fizesse se não fosse noiva; parece-me até que o fazia; mas assim.