As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 35: XXXV Pág. 249 / 332

Formada esta resolução, seguia-se regular a maneira de a levar a efeito.

A curiosidade pública trazia muito vigiada a casa das duas irmãs; era pois difícil iludi-la. Demais, a promessa feita ao reitor e a Margarida embaraçava Clara. Daí, diversos expedientes lembrados, pesados e postos de lado, até enfim terminar pela adopção do pior de todos.

O excesso de prudências e de cautelas conduz muitas vezes a imprudências mais perigosas.

Clara comunicou a sua resolução a Daniel; este, exultando pela confiança que nela via transluzir, agradeceu-lha com efusão e prometeu a Clara, e a si próprio, mostrar-se digno dela.

Assim se preparava a entrevista, cujos resultados o leitor conhece já.

Margarida porém que, observando as recomendações do pároco, continuara a espiar a irmã, não era de todo alheia ao que se passava.

Naquele dia sobretudo julgou perceber nos modos de Clara certa preocupação, que a fez mais vigilante.

Eram Trindades quando Margarida ia, como costumava, fechar por suas próprias mãos a porta do quintal. Clara não lho permitiu; e com tal instância teimou em se encarregar desse cuidado, aquela noite, que Margarida teve pressentimento do que se estava preparando.

Isto obrigou-a a ficar a pé, depois de se recolher no quarto.

Apagou a luz, para que lhe não suspeitassem a vigília, e não abandonou a janela.

Passado tempo, viu - e com que amargor da alma! - confirmadas as suas suspeitas. Clara saía furtivamente de casa. Margarida não hesitou; e com passos incertos e o coração oprimido de tristeza seguiu-a, sem ser sentida. Valeu-lhe para isso a espessura das árvores que orlavam os arruados do quintal.

Naquele momento, a mais comovida das duas não era decerto Clara.

Enfim ouviu-se o ruído de passos na rua exterior; a porta abriuse e Daniel apareceu.





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