As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 38: XXXVIII Pág. 274 / 332

Era Margarida.

Colhida de improviso, não teve tempo de enxugar as lágrimas, que em fio lhe corriam pelas faces descoradas. Em vão se esforçava por desvanecer com sorrisos o efeito daquelas lágrimas e da expressão de tristeza, que tinha profundamente gravada no semblante.

O reitor surpreendeu-a assim e olhou para ela inquieto.

- Que é isto? Lágrimas! choros! - exclamou ele, levantando- -lhe a fronte, que Margarida inclinava, para esconder dos olhos do seu velho amigo aquele indiscreto pranto. - Ai, filha, que me dizias tu há pouco? Era então mentira a indiferença que asseguravas? Eu logo vi... Mas... valha-me Deus... nesse caso... para que fui eu?... Então, Margarida! - então! - então...? Nossa Senhora te valha, filha! Não chores, olha que não sou teu amigo. Mas para que dizias tu?... Pois está bem de ver, sempre custa... Vamos, sossega, mais vale dizer a verdade. Isto assim não tem jeito. Sossega, rapariga, sossega. Vá o mal a quem toca. Nem todos podem ser santos. Os santos?... Os santos estão nos altares, ora adeus. Há coisas que são superiores às forças humanas. Não chores, filha; isso até é uma vergonha. Pedro é bom e perdoará a Clara e, perdoando ele, quem tem direito de condenar? E se não perdoar... não sei que lhe faça. Quem mal a cama faz nela se deita; ora é muito boa! Enquanto ao mundo... adeus, minha vida, o mundo é o mundo; importa lá o mundo. Era o que faltava se por causa dele te ias agora sacrificar. Na verdade que valia a pena! Deixa estar que tudo se há-de arranjar. Verás. Mas não chores; pareces-me uma criança. Então, então, Margarida? E aí estás chorando mais!

E o bom homem quase chorava também.

Efectivamente, como a todos nos sucede quando, dominados por a tristeza, encontramos um coração





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