- Então, Margarida, filha, então!... - dizia o reitor, deveras aflito, e, tentando todos os meios de acalmar aquela dor, acrescentou contra o seu costume: - Guida! Guida! isso não é bonito.
Só passados alguns momentos é que Margarida conseguiu falar, e ainda com a voz entrecortada de soluços disse para o reitor:
- Perdoe-me, perdoe-me por quem é. Mas não pude, não posso mais. Não julgue que me arrependo do que fiz, que me lembro de recuar. Creia-me, pouco me importa o mundo, o que dizem, o que virão a dizer. Pouco me importa.
- Mas então este choro?
- Nem sei porque choro, eu mesma não o sei. Mas faz-me bem o chorar. Deixe-me, deixe-me por piedade.
- Mas, minha orgulhosa, porque não aceitaste tu a proposta de Daniel?
- Isso é que nunca - exclamou com impetuosidade Margarida, e de novo lhe saltaram as lágrimas dos olhos.
- E aí estás a chorar cada vez mais! Mas isto não deve ficar assim. É preciso dar-lhe remédio. Tua irmã não pode querer...
- Mas se eu lhe juro que não choro por isso! Se eu lhe afianço que pouco me importa o mundo!
- Mas, então, ó Virgem Santa, então porque choras tu? Eu endoideço ainda hoje... endoideço. Sacrificas a tua reputação para salvar a de Clara e não choras por isso; tiveste na tua mão o meio de remediar tudo, aceitando o leal oferecimento de Daniel, e que afinal o pobre rapaz fazia do coração, e recusaste sorrindo. E agora venho encontrar-te neste estado e dizes-me, e juras-me que não é nada! Recusas confiar-me a causa! Margarida, é preciso saber, quero saber porque choras assim!
- Agora não posso, não sei até dizer-lho.