As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 39: XXXIX Pág. 286 / 332

Estava já lá o Pedro do Abade, o João das Pontes, o tio Gaudêncio das Luzes... por sinal que anda escangalhado o velho. Perdigão perdeu a pena, não há mal que lhe não venha. Não sei que diabo aquilo é. Eu ponho as mãos numas horas, se o homem deita o ano fora. Quem viver, verá. Mas vai, chego-me a ele... «Ó ti Gaudêncio, digo- -lhe eu, que é isto aqui?» - Olha, diz-me ele. - E vai, eu olho e vejo o Pedro das Dornas, com uma espingarda na mão e o Sr. Reitor ao pé dele, e no chão uma mulher...

- Morta? - perguntou com vivacidade a Sr.ª Teresa.

- Morta não, senhora. A mulher estava viva.

- Mas o tiro que ele deu?

- Eu lá disso não sei!... Pois ele deu algum tiro?

- Pois eu não ouvi um tiro? - disse a Sr.ª Teresa. - E não fui eu só; houve mais quem ouvisse.

- Que ele tinha a espingarda, isso lá tinha.

- E deu o tiro; não tem dúvida que deu. Mas então era a Clara?

- Nada, não era; era a irmã, a mestra. Eu bem a vi. E vai ao depois, o Sr. Reitor não sei que disse e tal, sim senhores, e pega e vai ao Pedro e manda-o embora e volta-se para o povo, que por ali estava, e manda-o também embora, dizendo que não dessem à língua; e com razão, porque a rapariga é bem afamada e, se se principiasse agora por aí a falar... Sempre me há-de lembrar que quando minha mulher...

- Mas o Pedro que disse à saída?

- Não disse nada. Parecia nem dar por a gente. Ia assim a modo de estarrecido. Se lhe parece! Sempre um homem às vezes se encontra nelas boas! Uma ocasião tinha eu ido...

- Mas então está bem certo que era a Margarida a que...

- Ora se era! Pois eu não conheço a Margaridita? Ainda o pai era vivo, quando eu, indo com ele um dia a uma patuscada... que nós dávamo-nos muito; aí está que, faz pelo S. Martinho doze anos.





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