Vou ter com ele, esteja onde estiver; na sacristia, que seja.
Ora fique sabendo que pode ser que lhe sirva.
- Então acaba ou não acaba a sua história, Sr. Manuel? - disse a Sr.ª Teresa, desfazendo a altercação nascente.
- Salto eu para a rua - continuou o jornaleiro - e, como o barulho vinha do lado dos Juncais, tomei por lá. Vi-me em calças pardas. Não fazem ideia como está aquilo nos Juncais. Uma coisa é ver, outra é dizer. Sempre temos uma câmara, louvado seja Deus!
Deixa estar aquele mar nos Juncais... porque é um mar, sem tirar nem pôr. Eu queria que a Sr.ª Teresa passasse por lá de noite como eu, que sempre havia de dar ao diabo a cardada.
- Mas depois que viu? - perguntou a Sr.ª Teresa, exausta de paciência com as intermináveis digressões do orador, e acrescentou baixinho: - Sume-te, demo mau!
- Quando cheguei perto da casa das do Meadas, passou por mim um homem e eu meti-me num canto, para, se fosse preciso, agarrá-lo...
- Deixá-lo fugir - concluiu impertinentemente o sacristão, sorrindo.
O Manuel do Alpendre, que era a graça do jornaleiro, nem se dignou responder; continuou:
- Vi que era o Daniel ou o Diabo por ele, mas pareceu-me que o homem levava alguma coisa quebrada. Ia assim como a mancar. Olhe que sempre se vai saindo o tal menino! Eu digo, que se ele escapa de tantas que faz! Mas há gente assim. Uns a cavar pés de burro por esse mundo, outros então a levar a vida com uma perna às costas. Este é um dos que parece ter nascido num fole, o tal Sr. Daniel... Bem fez cá o Sr. João, em lhe fechar a porta na cara, e pôr termo às visitas que ele fazia por aqui; já se sabe porquê, sim, já à boca cheia se dizia...
- Vamos ao caso, vamos ao caso - interrompeu a Sr.ª Teresa.
- Você que fez depois?
- Eu? Segui o caminho e cheguei à porta das raparigas.