As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 39: XXXIX Pág. 287 / 332

.. Dantes é que o S. Martinho era S. Martinho... Lembra-se, Sr. João, daquela vez que nós fomos todos?... que tempo! Ainda era vivo o tio André de Murtosa... Que homem tão divertido! Aquilo era uma coisa por maior... pois quando ele ia de serandeiro às esfolhadas! Dantes sim, é que se faziam esfolhadas!... Agora já se não fazem que prestem... Aí está que eu fui no outro dia à do Damião... pois senhores parecia-me um enterro... Ele também teve fraco S. Miguel este ano... O homem não sabe dar amanho às terras... As terras querem-se bem tratadas, não há que ver... É como uma pessoa; quem não tem o sustento preciso, não pode medrar. Olhem aquela rapariga, filha do João Ferreiro... Quem a viu e quem a vê...

E, de incidente em incidente, corria à vela cheia o pensamento de Manuel do Alpendre pelo vasto mar das suas recordações, afastando- se cada vez mais do assunto primitivo e cada vez desesperando mais a curiosidade do auditório.

O sacristão cortou o fio da digressão.

- Mas aí vem quem nos pode dar informações exactas - disse ele, vendo entrar na loja nova personagem.

Era uma mulher de cor de cera, muito macilenta, de olhos meio fechados e sorriso de beatitude nos lábios. Usava o cabelo curto, penteado para diante da testa, a qual ficava coberta por ele até às 271 sobrancelhas; cingia-lhe a cabeça um lenço branco, posto à maneira de barrete; sobre o primeiro, outro de cor escura, atado por baixo da barba e puxado para diante até deixar-lhe o rosto como no fundo de uma gruta, e, ainda por cima, a capa de baeta, sem cabeção.

Das mãos pendia-lhe constantemente um comprido rosário.

Era enfim um destes tipos de beata, comum nas nossas aldeias; - mulheres, cuja vida se passa em devoções contínuas, em novenas e





Os capítulos deste livro