- Com as janelas fechadas, ti’Zefa?!
A beata mordeu os beiços.
- Vi esta manhã o sangue, é o que eu queria dizer. E por sinal não era tão pouco.
- Quem havia de dizer que aquela sonsinha da Margarida... - ponderou o tendeiro.
Neste ponto entraram na loja mais alguns fregueses, que, já informados do que se passara, prestaram logo ouvidos à conversa.
Entre eles achava-se também a criada de João Semana, a qual viera comprar arroz para o jantar de seu amo.
Não foi de todo o auditório a menos atenta esta nossa conhecida; mas uma contracção de lábios e sobrancelhas e o olhar que fixou na beata mostravam que não era de ânimo satisfeito, que ela escutava os boatos daquela manhã.
A confessada do padre José continuava:
- Olhe, Sr. João da Esquina, isto de viver assim ao deus-dará, não é lá grande coisa. Aquilo naquela casa é uma república, sabe? Falta ali uma pessoa de juízo e de temor de Deus. O Sr. Reitor... enfim, eu não quero dizer mais nada.
- Pois é pena - resmungou a Sr. Joana.
- É assim, ti’Zefa, é assim. O Sr. Reitor dá toda a liberdade àquelas raparigas. Aquilo mais tarde ou mais cedo estava para suceder - disse a Sr a Teresa.
- Melhor tu olhasses por o que te vai por casa - continuava a resmonear Joana.
- Olhem que mestra de crianças! - observou uma gorda oleira, que viera comprar uma quarta de sabão. - Não, filha minha não mandava eu lá.
- Deixa estar, que contigo havia de aprender boas prendas - comentava ainda Joana.
- Não há-de ser a minha que há-de lá voltar.
- Nem a minha - disseram algumas das mulheres presentes.
A Sr.ª Joana principiou a ser acometida de uma tosse seca, tão significativa, que desviou para ela as atenções.
Mas a Sr.ª Joana, na qualidade de governante do velho cirurgião, era na terra uma potência, com que poucos se atreviam a arrostar.