As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 40: XL Pág. 303 / 332

Margarida, banhada de lágrimas, baixou-se e uma por uma as apertou ao seio, sem poder falar de comovida.

- Bem, minhas filhas, bem - disse o reitor. - Dais assim um nobre e belo exemplo a vossas mães; é decerto a mão de Deus que vos tocou os corações. Quem se recusará a imitá-las?

- Eu não - disse uma voz por detrás do reitor.

Este voltou-se e viu José das Dornas, que se aproximara havia alguns momentos e assistira à cena, que descrevemos.

O velho lavrador, depois de responder assim ao pároco, aproximou- se também de Margarida e, pegando-lhe na mão, disse:

- Minha filha, eu tenho sessenta anos. Desde que minha mãe morreu... há quarenta anos quase, nunca mais beijei a mão a ninguém.

Pois digo-lhe que o faço agora ainda com mais respeito, do que fazia então.

E o rude, mas generoso lavrador, baldando a resistência de Margarida, imprimiu-lhe na mão um beijo, em que ia toda a franqueza e lealdade daquele carácter.

Ao endireitar-se, achou-se nos braços do reitor.

- Bravo, José! bravo, meu homem! Isso esperava eu de ti, que te conheço há muito. Bravo! bravo! - dizia ele entusiasmado até às lágrimas.

O exemplo obrigava. Algumas mulheres aproximavam-se já de Margarida e houve uma, que lhe segurou a mão.

Margarida porém retirou-lha e, esquecida da injúria passada, recebeu-a nos braços.

As outras, livres assim da acção, que mais lhes magoava o orgulho de mulher, correram já de boa vontade a abraçarem a pupila do reitor.

Enquanto se passava esta cena, o padre, chamando à parte José das Dornas, perguntou-lhe:

- Então soubeste?...

- Esta manhã foi que mo disseram. Creia, Sr. Reitor, que não pus más suspeitas na rapariga. Eu sei de que diamante é feito aquele coração. Corri a procurá-la para lhe dizer isto mesmo; soube que tinha saído com o Sr.





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