- Agora aproximem-se e venham aqui pedir por favor a esta rapariga, à minha pupila, entendem? - à minha pupila; venham pedir-lhe que lhes abençoe as filhas. Vamos!
O orgulho feminino revoltou-se contra a intimação.
- Essa agora!
- Era o que me faltava!
- Olhem os meus pecados!
- Não, que ele não há mais!
- Disso a livrará o Senhor!
- Não há-de ser a filha de meu pai.
- Para longe a tentação...
- Que é? que é? que é lá isso? - exclamou o reitor, interrompendo este zunzum de má vontade e insubordinação. - Que virtuosíssimas criaturas sois vós todas! Olhem lá que não manchem os lábios a pedir! Não vos custa manchá-los a jurar em vão o santo nome de Deus, não se vos importa manchá-los a assoalhar as vidas alheias, a caluniar as amigas, a insultar as vizinhas; mas fazeis escrúpulos de os empregar, a pedir a bênção para vossos filhos, a quem, mais e melhor do que vocês todas juntas, lha pode e deve dar.
- Ora! - disseram algumas vozes.
- Ora! Ora o quê? Saibam então que todas, todas vocês, nem são dignas de lhe beijarem as bordas dos vestidos. O que sabeis é engrolar Padre-Nossos e roçar com a testa pelo chão das igrejas; mas não tendes coração para a doutrina do Senhor, não. Vós, as santas criaturas, envergonhais-vos de pedir, como se vos desonrassem com isso? Pois eu não me reconheço tão puro; sou um pobre pecador e por isso não devo ter essas soberbas de bem-aventurados.
E o padre, dominado pela exaltação que se lhe apoderara do espírito irritado, curvou-se, descobrindo-se; e tomando a mão de Margarida, levou-a respeitosamente aos lábios, apesar dos esforços daquela.
A assembleia feminina baixou toda os olhos de confusão.
As crianças rodearam a sua jovem mestra e desta vez espontaneamente lhe cobriram de beijos as mãos.