Reitor; vim-lhes na pista...
- E então que pensas tu de tudo isto, José?
- O que penso? Já o tenho dito por aí. Eu não sei lá como as coisas se passaram, porque, segundo o costume, cada um conta a história a seu modo; mas que a culpa é toda do Daniel, isso para mim é de fé. Tem diabo o rapaz! Já vejo que é impossível deixá-lo ficar aqui na terra. Lá me custa, que sempre é filho; mas não há outro remédio. Que vá para o Brasil.
Estas palavras chegaram aos ouvidos de Margarida, e fizeram- -na estremecer.
- Para o Brasil? - disse o reitor, abanando com a cabeça em sinal de desaprovação. - Então que há-de ir o rapaz fazer para tão longe?
- Pode enriquecer por lá, que é terra para isso. Que dúvida? E pelo menos escusa de andar por aqui a desacreditar as raparigas da aldeia. É sestro que não perde, ao que estou vendo. Escuso de me arriscar a mais desgostos.
- Mas...
- Para que diabo lhe havia de dar! Logo então esta, a mais sisuda, a mais santa das nossas raparigas!
- E se os casássemos? - disse em voz baixa o padre a José das Dornas.
- O quê?! - perguntou este, espantado com o alvitre.
- Sim, que dúvida? Pois que melhor noiva podes querer para teu filho, do que aquela, a quem já pensaste poder beijar a mão?
- Decerto, mas... Não conhece o rapaz, Sr. Reitor? Aquilo casado! Ó santo nome! E então com esta!... Pobre rapariga!
- Enfim, pensaremos e conversaremos. Olha que a dificuldade parece-me ainda mais dela, do que dele.
- Que diz?!
Apesar do elevado conceito, em que José das Dornas tinha o carácter de Margarida, não podia conceber como fossem possíveis as repugnâncias da parte dela, para um casamento tão vantajoso.
- Então que queres? - disse o reitor - orgulhos de pobre...
Não compreendes isto?
E tomando o braço do lavrador, como quem tinha a comunicar- -lhe alguma coisa importante, afastou-se com ele um pouco para o lado.