As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 41: XLI Pág. 308 / 332

Olhe, vou dizer-lhe uma coisa.

Está para poucos dias o casamento de Clara. É preciso pôr-se bom para esse tempo.

O doente tomou uma expressão e agitou os lábios, como procurando falar.

Margarida inclinou o ouvido atenta, para conseguir percebê-lo.

Entendeu-lhe estas palavras mal distintas:

- Não, nunca senti isto...

- Que o aflige então? - perguntou Margarida.

- Não sei... é aqui... - e com dificuldade elevou a mão ao peito; depois acrescentou: - É a morte.

E, dizendo isto, fechou os olhos, como se extenuado pelo esforço.

- Bem sei também do que há-de ser isso - prosseguiu Margarida, depois de pequena pausa. - É de estar assim tão sumido pela cama abaixo. Quer que o levante?

O velho fez um sinal de assentimento.

Margarida segurou então por baixo dos braços aquele corpo enfraquecido e descarnado; e suavemente, com cuidado de mãe, com a arte instintiva na mulher, elevou-o para a cabeceira. Mas o aspecto que iam tomando as feições do doente, à medida que ela o levantava assim, intimidou-a e tanto, que precisou de fechar os olhos com medo de que lhe faltassem em meio as forças, a que a piedade dera alento.

A palidez aumentava naquele rosto desfigurado; afastavam-se- -lhe os lábios para respirar; cada expiração era acompanhada dum gemido.

- Está pior? - dizia Margarida, sobressaltada com a mudança. - Sente-se mais mal? Fale. Porque está assim aflito?

Estava melhor na posição que tinha? Quer que o ajude outra vez a descer?

E inquieta, aterrada por aquela agonia silenciosa, Margarida juntava as mãos, irresoluta do que devia fazer.

O moribundo parecia que a não escutava. Caiu pouco a pouco num abatimento extremo. A mão, que Margarida lhe tomara entre as suas, já não dava sinal de movimento, nem de vida.





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