As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 42: XLII Pág. 329 / 332

Pareceu-lhe também ver nos criados um ar de susto e de perturbação, que acabou de lhe fazer perder a frieza de ânimo. Correu, em vista disto, a casa do reitor, também o não encontrou. Calculou que estaria em casa das pupilas e dirigiu-se para lá.

Imagine-se pois se o não irritaria a presença de espírito, o ar de gracejo, com que lhe respondeu o reitor! Subiu as escadas, disposto a pôr de parte todas as cautelas, e a dar a novidade sem lhe importar as consequências.

Ao entrar na sala ficou porém imóvel de admiração, com o que viu.

José das Dornas, sentado, limpava uma lágrima de satisfação; a uma janela, Pedro e Clara entretinham-se, conversando amigavelmente; a outra, Margarida escutava Daniel, que lhe estava falando do passado e do futuro, da maneira desordenada por que se fala, em ocasiões assim.

O velho cirurgião olhava boquiaberto para uns e para outros, sem saber o que pensar daquilo tudo; afinal olhou para o reitor, que lhe pregou uma risada.

- Isto que quer dizer? - perguntou João Semana, conseguindo enfim fazer uso da língua.

- Quer dizer que estás convidado desde já, para duas bodas - respondeu o reitor, designando com os olhos os dois grupos, tais como os últimos acontecimentos os tinham formado.

- Então, que diabo me tinham dito?...

- Ora! e tu dessa idade ainda a engolir todas as pílulas que te impingem! É bem feito, que também às vezes as receitas de calibre de granada. Então contaram-te coisas horrorosas? Eu logo vi. Estava a ler-tas na cara; pois agora conta tu o resto da história a essa gente e que façam o favor de se calarem por uma vez com isso.

- Melhor foi assim - disse João Semana, um pouco envergonhado da sua credulidade; - já vejo que não faço nada aqui, adeus!

E ia a retirar-se.





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