Joana olhou e compreendeu tudo.
- Ora, sim, senhor; teve juízo uma vez aquela cabeça - disse ela, referindo-se a Daniel, de quem se aproximou, e depois em tom de familiaridade perguntou-lhe: - E então a tal senhora que havia de mandar vir da cidade, de vestido a arrastar e não sei que mais?
Olhe que esta não tem os cem mil cruzados que queria.
- Mas não vale mais que todas as outras, Joana?
- Ora, boa pergunta! A falar a verdade, não a merecia muito, não.
E, afastando-se um pouco de Daniel e Margarida, pôs-se Joana a olhar para eles ambos, com ar de contentamento - dizendo depois em voz alta:
- Não que parece que foram mesmo talhadinhos um para o outro.
Os três velhos e Pedro, Clara e Daniel riram da observação de Joana; Margarida sorriu também, mas corando.
E a saúde projectada entre o reitor, João Semana, e José das Dornas, fez-se conforme o estilo, tomando também parte nela Joana, cujo toast não foi o menos eloquente.
- Nunca fiz um casamento com tanta vontade! - disse o padre, esfregando as mãos.
- E fica tudo numa família - observou José das Dornas, todo satisfeito.
- Isso é que é o diabo; se as duas me dão agora as avenças de uma só! - resmungou João Semana, de maneira que todos ouvissem, fingindo-se apreensivo com isto.
José das Dornas, conquanto bem conhecesse que era aquilo um gracejo do cirurgião, assegurou-o que as avenças redobrariam.
Pedro, achando-se perto de Daniel, abraçou-o com expansão de alegria.
- Ou a noite de antes de ontem, ou o dia de hoje, irmão - dizia ele, quase lagrimejando.
- Agora sim! - exclamou o reitor, vendo aqueles contentamentos.
- Agora, quando Deus me chamar a si, posso dar contas limpas aos pais destas raparigas.