As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 7: VII Pág. 38 / 332

Mas o reitor estava sempre a pregar-lhe:

- Pedro, tu andas-me por aí muito à solta! Vê lá onde vais cair.

- Ó Sr. Padre António, a gente também precisa de se divertir um bocado.

- Pois sim, mas tudo se quer em termos e que não venham depois as lágrimas e os arrependimentos!

- Eu não hei-de fazer coisa que...

- Sim, sim... Sabes o que eu te digo? O melhor, rapaz, é procurares o que te faça arranjo, e então que seja deveras. Casa-te e deixa-te de andar desnorteado, e nessa vida airada, que raro dá para bem.

- Ora, Sr. Reitor, ainda tão novo, hei-de já tomar canseiras de família?

- Queira Deus que, conservando-te assim como estás, as não acarretes mais pesadas ainda.

Não obstante os conselhos do reitor, Pedro não se sentia com grande vocação matrimonial. Todas as suas afeições eram efémeras, e daquelas, em cujo futuro o próprio que as sente não acredita; mas - lá vem uma vez que é de vez - diz o ditado; e, com Pedro, não estava esta fórmula da sabedoria popular destinada a ser desmentida.

Vejamos como foi isto. Ia Pedro nos vinte e sete anos já - era então um rapaz vigoroso e sadio, de belas cores e músculos invejáveis.

Andava certa manhã ocupado a cortar o milho em um campo, propriedade da casa, o qual ficava situado na margem do pequeno rio, que atravessava a aldeia em continuados meandros.

Próximo, havia uma ponte de pedra de dois arcos, construção já antiga, mas bem conservada ainda; o rio era nesse lugar pouco fundo, e deixava, à flor de água, as maiores das pedras espalhadas pelo seu leito, permitindo assim passagem, a pé enxuto, de uma para outra margem.

De joelhos sobre estas poldras, como por lá lhes chamam, desde o arco até alguma extensão no sentido contrário ao da corrente,





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