um bando de lavadeiras molhava, batia, ensaboava, esfregava e torcia a roupa, ao som de alegres cantigas, interrompidas às vezes por estrepitosas gargalhadas; outras estendiam-na pelos coradouros vizinhos e algumas, mais madrugadoras, principiavam a dobrar a que o sol da manhã havia já secado.
Pedro, do campo onde trabalhava, via estas raparigas, conhecidas suas quase todas, mas sem que o vê-las o distraísse da tarefa em que andava empenhado.
À medida, porém, que, prosseguindo na ceifa, se aproximava mais da beira do campo imediato ao rio, como o adiantado do trabalho lhe concedia mais vagares, pôs-se a reparar com atenção para uma das lavadeiras e a achar certo prazer na contemplação.
Era uma rapariga de cintura estreita, mãos pequenas, formas arredondadas, vivacidade de lavandisca, digna efectivamente das atenções de Pedro e até de outro qualquer, mais exigente do que ele.
As mangas da camisa alvíssima, arregaçadas, deixavam ver uns braços bem modelados, nos quais se fixavam os olhos com insistência significativa. Um largo chapéu de pano abrigava-a do ardor do sol e fazia-lhe realçar o rosto oval e regular de maneira muito vantajosa.
De quando em quando, levantava ela a cabeça e sacudia, com um movimento cheio de graça, a trança mais indomável, que, desprendendo- se-lhe do lenço escarlate que a retinha, parecia vir afagar- lhe as faces animadas, beijar-lhe o canto dos lábios, efectivamente de tentar.
Em um destes movimentos frequentes, reconheceu que era observada, se é que certo instinto, peculiar das mulheres bonitas, lho não fizera já adivinhar. - Sabendo-se observada, conjecturou que era admirada também - conjectura que por mulher alguma é feita com indiferença e muito menos por Clara - era o nome da rapariga - porque, diga-se o que é verdade, tinha um tanto ou quanto de vaidosa.