As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 9: IX Pág. 55 / 332

Cultivar inteligências e cultivar afeições!... que futuro! A alma, no íntimo apaixonada, de Margarida exultava só com a ideia.

Restava obter o consentimento de Clara, e que táctica não seria necessária para isso!

- Clarinha - disse-lhe pois um dia Margarida - vou pedir-te um favor!

- É possível! - exclamou Clara, sinceramente admirada. - É esta a primeira vez que me pedes um favor, Guida. Repara bem.

- Tanto mais razão para mo concederes, filha; não é verdade?

- Assim me pedisses mil, Guida, para todos te conceder também.

Ora dize.

- Sabes? eu não me dou com esta vida de senhora, em que tu me tens. Que queres, minha filha? isto de trabalhar é hábito que se ganha de pequeno e se não perde mais....

- Mas, então? - disse Clara, pondo-se séria, como se suspeitasse vagamente o que a irmã lhe ia dizer.

- Queria que me deixasses trabalhar.

- Mas não trabalhas tu tanto, mais do que eu, Guida? Podia eu, sem ti, olhar por estas coisas de casa, de que não entendo, de que não quero entender? só se queres vir lavar ao ribeiro comigo.

Ora! Guida, estas mãos delgadas já não foram feitas para isso.

- O que dizes que eu tenho que fazer, Clarinha, não é trabalho que ocupe muitas horas, como sabes. Resta-me ainda tanto tempo!

Olha que os dias são muito grandes.

- Mas que queres tu afinal?

- Sabes?... uma coisa que eu desejava... uma coisa que me faria andar alegre até!... não desejas tu ver-me andar alegre? não me ralhas tu pelas minhas tristezas?

- Mas vamos a ver o que tu querias; o que é que te daria essas alegrias grandes? Alguma loucura grande também.

- Não é, não. Olha... se eu tivesse umas poucas de crianças para ensinar...

Clara não a deixou continuar.

- Tu, tu minha irmã! Ensinares tu as filhas dos outros?! Viveres de educar os filhos alheios!

- Ó orgulhosa! então isso é alguma vergonha? Anda lá, que se o Sr.





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