As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 11: XI Pág. 69 / 332

Criança era ele ainda, que já o reitor se espantava da memória do rapaz. E se você visse, Sr. João, o livro que ele escreveu? Chamam-lhe lá tese, ou não sei quê. Pelos modos, sem escrever aquilo, não podem ter as cartas de examina.

Eu tenho um, que ele me mandou. Como sabe, eu daquilo nada entendo, mas bem vejo que é obra acabada e bem feita. Deixe estar que eu lho hei-de trazer, para ver.

- Eu disso pouco sei dizer, não é a minha especialidade.

Não estamos habilitados para declarar aqui qual fosse a especialidade do Sr. João da Esquina.

- Pois sim, bem sei - continuou o pai - ; mas sempre lá há- -de encontrar coisa que perceba. O João Semana também tem um que o Daniel lhe mandou, e disse-me que está coisa asseada; e o Sr.

Reitor afirmou-me que bem se conhece que o rapaz não se esqueceu do latim, porque em... geografia, parece-me que foi geografia que ele disse, nisto que ensina a escrever com letras dobradas, não tem nada que se note.

- Bom é isso - replicou o tendeiro, já um pouco distraído a somar as parcelas do seu livro de assentos.

José das Dornas continuou:

- Quer saber, Sr. João? Olhe que, pelos modos, o rapaz até lá provou... Já sei que se vai admirar, mas olhe que é facto, assim o leu no fim do livro o Sr. Reitor, até lá provou... que não há doenças.

João da Esquina interrompeu efectivamente a sua tarefa, para fitar no interlocutor uns olhos espantados.

- Que não há doenças?

- É verdade - respondeu o lavrador, saboreando em delícias a estupefacção do seu vizinho.

- Essa agora! - dizia este ainda no mesmo tom de espanto. - Mas como se entende isso?

- Assim, como eu digo.

- Ó Sr. José das Dornas, então que é este reumatismo que me não deixa mexer?

- Não sei. Diz ele que é outra coisa; lhe dá um nome, mas é tão arrevesado, que me não ficou.





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