Contudo o reitor era destes homens, que têm coração para se compadecer de todos os infortúnios, daqueles mesmos que a sua inteligência não compreende bem.
A solicitude, com que se aproxima dos infelizes, não podia comparar- se à do médico, que procura sondar e conhecer o mal, para o debelar apropriadamente; era antes como a da mãe, que responde a todos os gritos do filho estremecido com beijos e com lágrimas, e se não cura assim a causa da dor, porque a desconhece, mitiga-a, por as simpatias que revela.
As palavras, cheias de resignação cristã, que o reitor dirigiu ao atribulado enfermo, serenaram a este um pouco as amarguras do espírito, que o espinho da dúvida pungia; e foi com verdadeira gratidão, que apertou as mãos do padre, quando este se preparava para retirar-se.
Uma das razões, que levaram assim o pároco a resumir a sua visita, foi o parecer-lhe ter ouvido o rumor de altercação um pouco viva, travada à porta da casa entre Margarida, que momentos antes deixara a sala, e outra pessoa, cuja voz parecia vir da rua.
Ao aproximar-se, o reitor percebeu melhor que a sua pupila falava em tom suplicante e o interlocutor, senão com aspereza, com menos cordura, do que o pároco desejaria. Isto obrigou-o a apressar o passo.
- Mas, por amor de Deus, fale mais baixo que não vá ele ouvir.
Eu lhe prometo que tudo se lhe pagará - dizia Margarida, quando o reitor chegou junto deles.
- Que é? - perguntou este com modo desabrido, saindo para a rua e fechando atrás de si as portas da casa.
O personagem que falava com Margarida baixou logo de tom, ao reconhecer o reitor, e respondeu com certa timidez:
- Era uma continha que trazia; mas uma vez que aqui a menina se responsabiliza... - Eu sou o senhorio.