As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 15: XV Pág. 97 / 332

Envolvia-o uma como que atmosfera de isolamento - para me servir de uma frase da língua científica - e nesse ambiente não floresciam os amores bucólicos.

Raras vezes mostrou recordar-se daquelas suas afeições de criança, que tantas lágrimas lhe tinham já feito verter.

Só um dia em que, passeando nos campos, chegara por acaso ao pequeno outeiro, onde sucedera a inocente cena de idílio, tão mal encarada pelo reitor, foi que lhe veio à ideia essa passagem da infância, já quase esquecida; e a imaginação lhe representou então o vulto suave e meigo da pequena Guida, como uma visão momentânea, rodeada pelo brando perfume da poesia e da saudade.

Lembrou-se dessa vez de perguntar por ela. Disseram-lhe que, tendo ficado órfã de pai e mãe, vivia só com a irmã e que ensinava meninas - tarefa que raras vezes lhe permitia sair de casa.

Daniel nunca mais renovou a pergunta.

Fora isto talvez dois anos antes da sua vinda definitiva para a aldeia. Não admira, pois, que com estas disposições mentais, estivesse muito longe de pensar em Margarida quando, com segunda intenção, o pai pronunciou o apelido de família da noiva de seu irmão.

Foi como por demais que Daniel disse ter uma ideia deste apelido, o qual lhe soara quase como novo.

Acompanhando Pedro, levava ele, portanto, o espírito inteiramente despreocupado e somente um pouco movido da curiosidade de ver a destinada esposa de seu irmão mais velho.

Tinha-se por conhecedor em belezas femininas e agradava-lhe sempre a análise, aplicada a esta especialidade estética.

Àquela hora do dia são os caminhos da aldeia muito frequentados pela gente que regressa do trabalho a casa.

Os dois irmãos a cada passo se encontravam com vários grupos de aldeãos - homens, mulheres e crianças - que todos os saudavam com as fórmulas sabidas: - «Guarde-os Deus» - e «louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo» - às quais ambos correspondiam com outras análogas.





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