As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 15: XV Pág. 99 / 332

Chegaram enfim a casa das duas irmãs.

Era uma pequena, modesta, mas graciosa habitação, um pouco fora já do centro principal do povoado.

A solidão em que ela ficava, própria a fomentar saudades, sem quebrantar com desalentos, agradaria aos menos poetas. Havia tanto sussurrar de folhagem, tanta pureza de ares, tanto desafogo de horizontes em volta dela, que uma íntima serenidade se insinuava na alma do que parava ali. À ténue claridade daquela ameníssima noite de estio mais realçava ainda a poesia do lugar.

A casa era toda caiada de branco; abria para a rua duas largas janelas envidraçadas, que alguns pequenos vasos de flores adornavam.

Dum e doutro lado, prolongava-se um lanço de muro de sólida alvenaria, igualmente caiado, e que a folhagem do pomar interior sobrepujava, caindo para o caminho as balsaminas em festões verdes e floridos.

Foi à porta deste muro que Pedro bateu familiarmente, dizendo para Daniel, que estava saboreando o prazer daquela perspectiva:

- É aqui.

Uma voz de mulher correspondeu ao sinal de Pedro.

Era a de Margarida.

- Sou eu, Margaridinha, abra - disse Pedro. - Sou eu e uma visita.

Passados alguns momentos, a porta girou nos gonzos, abrindo passagem para um vasto pátio ou quinteiro, assombrado de ramadas, o qual, naquele momento, atravessavam ainda algumas aves domésticas, retardadas, a procurarem o abrigo das capoeiras.

Margarida, que fora a que abrira a porta, ao ver Daniel, retirou- se sobressaltada para a quase obscuridade, que interiormente projectava a ombreira.

- Não se assuste, Margarida - disse Pedro, sorrindo, ao perceber- lhe o movimento. - Não se assuste; é tudo gente de casa. Este é o meu irmão Daniel, e o nosso cirurgião novo. Esta minha cunhada Margarida, que já assim lhe posso chamar - acrescentou, voltandose para o irmão - é muito acanhada, e por isso não repares.





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