- Ah! E foi ele quem, num só momento, me roubou todas as esperanças, toda a felicidade do meu futuro... Oh! amaldiçoado!...
- Não o arguas de nada, António; se alguma culpa há, é toda minha; disse que me queria muito, que só eu podia fazer a sua felicidade; acreditei-o, aceitei-lhe os seus protestos e entreguei-lhe o meu coração.
- Dessa forma é forçoso perder qualquer esperança que eu ainda pudesse nutrir, não é verdade?
- Seria escusado repetir o que já te disse.
Estas palavras foram para o pobre jovem o último golpe. Inclinou a cabeça para o peito e ocultou o rosto entre as mãos, como se quisesse esconder as angústias e o desespero que o alanceavam. No meio das torturas em que se debatia, brilhara-lhe nos olhos um lampejo sinistro, terrível, ameaçador, como se do íntimo da alma houvesse feito um juramento de insaciável vingança. De repente, porém, esse fogo extinguira-se, e, encarando Rosa com um aspeto de amargurada resignação, murmurou tristemente:
- Como sou desgraçado, meu Deus! - e duas lágrimas escoaram-se-lhe, vagarosas, pelas faces pálidas.
Rosa pareceu comover-se, e, cedendo a um impulso de compaixão, aventurou-se a dizer:
- Então que é isso, António? Assim desesperas por um mal que não tem cura! Olha, meu amigo, há muitas raparigas na aldeia! escolhe uma de entre elas, ama-a muito e verás como me esqueces e como serás feliz.