Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: CAPÍTULO XVI

Página 161
.

- Já te disse que me não cantes - e relançava-lhe o seu formidável olhar vesgo incendido como os lampejos da candeia em que afogueava o cachimbo de pau. Depois, foi tirar de entre a cama de bancos e a parede uma velha clavina. Sentou-se à lareira e disse à mulher que tivesse mão na candeia. Enroscou o saca-trapo na ponta da vareta de ferro e descarregou a arma, tirando primeiro a bucha de musgo, e depois, voltando o cano, vazou o chumbo na palma da mão.

- Ó Joaquim, vê lá o que vais fazer! - insistia a mulher, limpando os olhos com a estopa da camisa. E ele, assobiando o hino da maria da fonte, despejava a pólvora da escorva, desaparafusava a culatra e tirava as duas braçadeiras. A mulher soluçava, e ele cantando numa surdina rouca:

Leva avante, portugueses,

Leva avante, e não temer...

- Pelas chagas do nosso senhor, lembra-te dos nossos pequenos.

E o melro numa distração lírica:

Pela santa liberdade,

Triunfar ou padecer...

Depois, bufava para dentro do cano e punha o dedo indicador no ouvido da culatra para sentir a pressão do sopro, que fazia um frémito áspero impedido pelas escórias nitrosas. Pediu à mulher umas febras de algodão em rama, enroscou-as numa agulha de albarda e escarafunchou o ouvido do cano.

- Está suja - disse ele - dá cá um todo-nada de aguardente.

- Joaquim, vamo-nos deitar, pelas almas. Não te desgraces!

- Traz aguardente e cala-te, já to disse, mulher, com dez diabos! - e pôs-se a assobiar a Luisinha. Enroscou algodão embebido em aguardente no saca-trapo e esfregou repetidas vezes o interior do cano até saírem brancas e secas as últimas farripas da zaracoteia. Soprou novamente e o ar saia sem estorvo pelo ouvido com um sibilo igual. Parecia satisfeito, e cantarolava, mezza voce:

Agora, agora, agora,

Luisinha, agora.

<< Página Anterior

pág. 161 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 161

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196