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Capítulo 25: CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS

Página 157

Sobrevieram dias de contentamento, o sol de Deus sem sombra do mal humano a dar em pleno seio de três pessoas que se consideravam ligadas para muita vida e duradoura felicidade. Amava Matilde o primo com tal sossego de alma, e tanta segurança de o ter íntimo e parte da sua vida, que já não lhe era condição de suprema ventura havê-lo como esposo. Já o sentia noivo no coração; para tudo da sua casa era ele o conselheiro, o guia, o irmão, a alma radiosa, que tudo iluminava, demudando em horas fugitivas de prazeres domésticos os dias... e noites da viúva, tão semelhantes, tão desluzidos até ao momento de encontrar segunda mãe, e nele o primeiro amor.

Quando ela pediu ao primo um sacrifício, como quem pedia um acto indiferente - sacrifício como deixar de ser escritor político - , Alexandre despediu-se dos seus colegas, e para consolar-se dizia entre si: “A minha intenção era ser útil em troca do pão que me davam. Eu deveria continuar, independente do estipêndio, a escrever? Deveria, se a vaidade me capacitasse de que a imprensa política regenera políticos. Portugal é um país em que somente se percebem e frutificam as ideias sociais da Besta Esfolada. Tudo que não for isto, é semente caída sobre penedos. Ninguém lê Silvestre Pinheiro Ferreira, e ainda é procurada a Defesa de Portugal, do padre Alvito Buela.”

Demasias dos 22 anos, já apagados de ilusões, não já por malefício da experiência, mas por motivo de se andar sempre às voltas com as leis visigóticas, e recuar com a vida nove séculos, de modo que, ao amanhecer das trevas do passado, não podia fitar de flecha o sol futuro, visível a todo o homem nado deste século, desde o regedor, que fabrica o deputado, até ao rei, que Deus guarde.

Um dia, o ex-jornalista apresentou a sua prima um papel, em que ela, em certo pleito com devedores do seu defunto marido, constituía seu bastante procurador o bacharel Alexandre Pimentel.

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pág. 157 (Capítulo 25)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 157

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177