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Capítulo 5: CAPÍTULO V - MÃE E FILHA

Página 27
Tais eram e tumultuavam as hipóteses no ânimo do filho de Silvestre Moniz, mais conhecido e sempre conhecido, a despeito de quinhentos contos, pelo tio Silvestre da Fonte. Replicou alucinadamente o académico às sinceras esquivanças da menina. Explanou os tópicos comuns dos ofendidos na sua plebeia vaidade; porque é singular coisa ver assomar-se em arrogâncias de ter nascido povo, propriamente aquele que reprova a filáucia do fidalgo. E então, nisto de amoricos de corações desiguais quanto ao sangue, há uns fumos de altivez agastadiça no homem de baixa estofa, que é preciso muita caridade sobre a paixão requintada da mulher que o atura.

Ricardina chorou quando leu as acusações iniquíssimas. Desde ingrata e cruel até desvanecida e pérfida. Esgotou Bernardo o vocabulário das fúrias do ciúme. Redarguiu o paciente anjo, aprazando-o para lhe fazer justiça com estas comoventes expressões: “Quando eu estiver no convento, meu amigo, tu me pedirás perdão. Desde já te perdoo...” Caiu em si o desatinado jovem. Remediou o mal feito, saneou-lhe a chaga com o bálsamo das lágrimas. Que importava! Ricardina insistia em não fugir de casa. Apuros de tanto decoro não condiziam com o exemplo da mãe, cujo passado as filhas adivinharam, desde que no livro dos batismos descobriram que não tinham pai, ou, se o tinham, chamara-lhe incógnito o abade, sendo ele, que a si mesmo se desconhecia, o redator do assento!

Quinze dias, os que restavam ao prazo assinado pelo padre, passaram rápidos. Ao fim do décimo quarto. D. Clementina disse à filha:

- Ricardina, faz amanhã um mês...

- Bem sei, minha mãe.

- Já pensaste no que hás de dizer?

- Já, minha mãe. Há muito que estou decidida. Quando o pai quiser, irei para o convento.

- Que me dizes, filha?! Pois teimas.

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pág. 27 (Capítulo 5)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 27

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177