- Então, boa viagem! - disse-lhes ele. - Felizes mortais!
Depois, dirigindo-se a Emma, que levava um vestido de seda azul, de quatro folhos:
- Acho-a linda como um amor! Vai fazer furor em Ruão.
A diligência parou no Hotel da Cruz Vermelha, na Praça Beauvoisine.
Era uma daquelas estalagens como há em todos os lugares de província, com grandes estrebarias e quartos pequenos, vendo-se no meio do pátio galinhas a comer aveia debaixo dos cabriolés enlameados dos caixeiros-viajantes - boas velhas habitações com varanda de madeira carunchosa, estalando com o vento nas noites de Inverno, sempre cheias de gente, de barulho e de comezaina, com mesas negras e encardidas pelos jogos da glória, as grossas vidraças amarelecidas pelas moscas, os guardanapos húmidos manchados de vinho tinto; uma estalagem a cheirar a aldeia, como os moços das granjas vestidos à moda da cidade, e que tinha um café para o lado da rua e, do lado do campo, uma horta com legumes. Charles começou logo a tomar providências. Confundiu camarotes com galerias, a plateia com as frisas, pediu explicações, não as compreendeu, falou com o porteiro e com o director, voltou à estalagem e depois novamente à bilheteira, e assim, por diversas vezes, calcorreou a cidade de um extremo ao outro, desde o teatro até à avenida.
Emma comprou um chapéu, luvas e um ramalhete. O marido tinha grande receio de perder o começo; e, sem ter tido tempo para engolir um caldo, apresentaram-se ambos à porta do teatro, que ainda se conservava fechada.