As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 33: XXXIII Pág. 234 / 332

- Pois sim, sim; hei-de fazer por isso, apesar de que já vou um pouco tarde. Eu digo agora como aquele franciscano, a quem repreendiam por, já de idade avançada, cair ainda na fraqueza, em que Noé caiu: «Já agora hei-de morrer com isto, dizia ele; porque de duas uma: ou já estou condenado e então não sei que lhe faça; não vale a pena a emenda; ou não estou, e quem pode perdoar uma bebedeira de quarenta anos, não deve pôr dúvida em perdoar a de meia dúzia mais». - Mas então em que combinavam vocês?

A renovação da pergunta, depois da referência do caso, fez perder ao reitor as esperanças de eximir-se a responder. Quando João Semana conservava uma ideia fixa, através da narração de qualquer anedota de frades, era para dificilmente a deixar.

Conhecendo isto por experiência, o reitor resignou-se, e ainda sem saber o que dizia, principiou a responder:

- Combinávamos...

E, fingindo arrepender-se, exclamou:

- Mas é boa essa! Não há senão perguntar. Tu não deves entrar no segredo. A coisa é entre nós três.

- Homem, dize lá o que é. Que diabo...

Um gesto do pároco obrigou João Semana a corrigir-se.

- Que S. Pedro de escrúpulos são esses agora?

A substituição no nome do espírito maligno pelo do apóstolo não lhe valeu a resposta que pedia, e que o reitor de boa vontade lhe dera, se a tivesse para dar.

- E a teimar! - dizia o padre, ganhando tempo. - Sempre és um curioso!

Daniel interveio enfim.

- Olhe, Sr. João Semana, basta que saiba, e depois não pergunte mais nada, que estávamos preparando uma surpresa a meu irmão Pedro, para o dia do casamento dele.

O reitor franziu as sobrancelhas, ao ouvir Daniel. Apesar do auxílio que ele lhe viera dar, desgostou-o a presença de espírito que mostrava, quando devia estar enleado de confusão e de vergonha; foi por isso que acrescentou com um evidente tom de severidade e irritação:

- Casamento que, se Deus quiser, hei-de brevemente abençoar.





Os capítulos deste livro