As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 37: XXXVII Pág. 264 / 332

Margarida, que estava sentada, com a cabeça entre as mãos, e absorta em profundo meditar, ergueu-se, de súbito, à voz do reitor e caminhou para ele, repetindo:

- Licença para dois? Pois quem nos traz consigo?

Mas, antes de receber resposta, divisou por entre a porta, meia aberta, o rosto pálido de Daniel.

Ao reconhecê-lo, Margarida estremeceu e voltou para o reitor o olhar interrogativo e inquieto.

O padre entrara já na sala.

- Que foi fazer? - disse-lhe Margarida, a meia voz e quase assustada.

- Deixa-me. Fiz o que entendia - respondeu o pároco, e, voltando- se para Daniel, que hesitava em entrar, acrescentou: - Entre, Daniel, entre. Aqui tem a santa, a corajosa rapariga, que...

- Senhor!... - exclamou Margarida, erguendo para ele as mãos, como a implorar piedade.

Daniel deu alguns passos na sala.

- O que há-de dizer o irmão ingrato e perverso, irmã sublime e generosa? - disse ele, fixando em Margarida um olhar de simpatia e de respeito, que a obrigou a desviar o seu.

Seguiu-se um silêncio, constrangedor para ambos.

Foi ela a que primeiro sentiu a necessidade de pôr termo a esta situação.

Para isso era-lhe preciso um esforço poderoso, enérgico, que rompesse todas as peias daquela timidez, que a enleava.

Não a abandonou ainda desta vez a força, com que sabia dominar- se. Foi já com aparente firmeza que, dentro em pouco, conseguiu responder:

- Sr. Daniel, esses cumprimentos não são de ocasião, nem eu sou para eles. Coisas mais sérias nos devem agora ocupar. A felicidade de duas pessoas está-nos confiada; está de alguma sorte nas nossas mãos. Uma palavra só a pode perder, bem o sabe. É preciso que nós todos três tratemos de segurar-lha. Por mim, fiz o que estava no meu alcance.





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