Margarida, que estava sentada, com a cabeça entre as mãos, e absorta em profundo meditar, ergueu-se, de súbito, à voz do reitor e caminhou para ele, repetindo:
- Licença para dois? Pois quem nos traz consigo?
Mas, antes de receber resposta, divisou por entre a porta, meia aberta, o rosto pálido de Daniel.
Ao reconhecê-lo, Margarida estremeceu e voltou para o reitor o olhar interrogativo e inquieto.
O padre entrara já na sala.
- Que foi fazer? - disse-lhe Margarida, a meia voz e quase assustada.
- Deixa-me. Fiz o que entendia - respondeu o pároco, e, voltando- se para Daniel, que hesitava em entrar, acrescentou: - Entre, Daniel, entre. Aqui tem a santa, a corajosa rapariga, que...
- Senhor!... - exclamou Margarida, erguendo para ele as mãos, como a implorar piedade.
Daniel deu alguns passos na sala.
- O que há-de dizer o irmão ingrato e perverso, irmã sublime e generosa? - disse ele, fixando em Margarida um olhar de simpatia e de respeito, que a obrigou a desviar o seu.
Seguiu-se um silêncio, constrangedor para ambos.
Foi ela a que primeiro sentiu a necessidade de pôr termo a esta situação.
Para isso era-lhe preciso um esforço poderoso, enérgico, que rompesse todas as peias daquela timidez, que a enleava.
Não a abandonou ainda desta vez a força, com que sabia dominar- se. Foi já com aparente firmeza que, dentro em pouco, conseguiu responder:
- Sr. Daniel, esses cumprimentos não são de ocasião, nem eu sou para eles. Coisas mais sérias nos devem agora ocupar. A felicidade de duas pessoas está-nos confiada; está de alguma sorte nas nossas mãos. Uma palavra só a pode perder, bem o sabe. É preciso que nós todos três tratemos de segurar-lha. Por mim, fiz o que estava no meu alcance.