D. Miguel I.
Moveu-se o exército em direitura à lixa. O Cerveira ia no grupo do quartel-general. Macdonell, de vez em quando, regougava monossílabos em espanhol ao quartel-mestre. O Cerveira retardava-se às vezes um pouco e emborcava o candil, gorgolejando e despegando pigarros teimosos. O Vitorino notava-lhe que ele bebia de mais - que o calor da genebra não se espalhava pelo corpo, mas sim concentrava-se na cabeça - que era um perigo. O Cerveira dizia que estava afeito; mas queixava-se de dores nas fontes e zunidos nas orelhas; que não se podia lamber com sono, e que dava cinco mil cruzados por estar na sua cama. E abaixando a voz tartamuda:
- Este ladrão deste inglês meto-lhe a espada até aos copos! Palavra de honra que o mato amanhã!
O Vitorino reparou de que o tenente-coronel gaguejava; mas atribuiu à embriaguez o embaraço na fala. Entrou a queixar-se o Cerveira de que estava tonto da cabeça, que se queria apear, porque não podia agarraras rédeas; e chamava com ansiedade o Zeferino que vinha muito à retaguarda. O quartel-mestre-general chamou um ajudante-de-ordens, e pediu-lhe que o ajudasse a apear o tenente-coronel. Cerveira lobo dobrava o tronco ao longo do pescoço do cavalo que estranhava o peso e o sacudia, sentindo-se livre da pressão do freio.
O apoplético ia resvalar, quando os dois oficiais o ampararam nos braços, numa síncope. Um deles acende uni palito fosfórico no lume do charuto, e disse que o tenente-coronel tinha o rosto inchado e muito vermelho. Chamavam-no, sacudiam-no; não dava sinal de vida; nem um ronquido estertoroso. Inclinaram-no sobre um combro de mato molhado; não lhe acharam pulso; a boca entortara-se, e os olhos muito abertos com umas estrias sanguíneas. Estava morto, fulminado pela apoplexia alcoólica.