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- Não seja asno! - volveu o sargento. Este homem não é D. Miguel. É um falante que o está aqui a comer a você e mais aos patolas tia sua laia. Vá-lhe buscar a roupa, senão ele entra na escolta em mangas de camisa.
- Dê licença que este senhor se vá vestir ao seu quarto - suplicou o abade.
- Sim, que se arranje com guardas à vista. - e acompanhou-os à saleta.
Quando envergava o casaco de pano piloto, o abade disse-lhe, com um gesto, que o dinheiro das botelhas de braga ia nas algibeiras do paletó.
O sargento perguntou que papelada era aquela que estava sobre a mesa. Leu a primeira folha e desatou a rir e a dizer ao barbaças:
- Olha que grande pândego você é! Você como se chama, ó seu coisa? - e leu alto:
Rol das mercês que a sua majestade o senhor D. Miguel I fez em Portugal e que se descrevem neste livro de apontamentos provisoriamente.
E na primeira página:
Marcos António de faria rebelo, abade de são Gens de calvos, capelão-mor de el-rei e dom prior de Guimarães.
E perguntava ao abade:
- Este ratão deste dom prior é você, hem? Parabéns!
Em seguida:
Torcato Munes Elias, visconde de são Gens, secretário privado de el-rei.
- Torcato Nunes! - recordava o pílula. - eu parece-me que conheço este diabo de o ver em braga no café da açucena, na cruz de pedra. Nunes! Um pelintra. Onde está o visconde, que lhe queda dar um cigarro? Enfim cá levo a papelada para braga - e enrolava os papéis. - a gente precisa conhecer os titulares novos para os respeitar e acatar, amigo dom prior de Guimarães.
Quando a escolta se formou fora do portão e o preso entrou ao centro, com a cara majestosa abatida e os braços cruzados, levantou-se na residência um choro como à saída de um defunto muito querido. Eram a cozinheira e a outra criada, num arrancar de soluços, enquanto o abade afogava os gemidos com o rosto apanhado nas mãos.