Amisere-se, pois, daqueles lucidíssimos espíritos de Calisto, que um por um se vão apagando ao ventar rijo da paixão, quais se apagam em céu de bronze as estrelas do mar alto, já quando o náufrago desesperançado finca os dedos recurvos na espuma das vagas.
Ó mal-sorteado Calisto! que auréola de patriarca te resplendia em volta do teu chapéu de merino e aço, quando entraste em Lisboa! Que anjo eras, entrajado na tua casaca de saragoça sem nódoas! Aquela científica boa-fé com que procuravas monumentos em Alfama, e água depurante no muco catarroso no chafariz de El-Rei, e querias que os aljubetas da rua de S. Julião te dessem conta do chafariz dos Cavalos!…
Que te valeram as máximas de boa vida colhidas a centenares nos teus clássicos, e enceladas nessa alma, refractária à ternura de tanta moça escarlate e sucada, que, lá em Caçarelhos, se enfeitava para achar graça em teus olhos?
Cairias tu nas pioses desta princesa dos mares, desta Lisboa que filtra aos nervos dos seus habitantes o fogo que lhe estua nas entranhas?
Cairias tu, anjo?