O morgado previra o seguimento funesto da desabrida recepção e despedida que deu ao mestre-escola.
A sua felicidade era daquelas que o possuidor receia, a cada hora, perder; e o desacordo com sua mulher podia redundar-lhe em dissabores grandíssimos. De todos, o que ele mais se temia, — o dissabor por excelência monstruoso — era a vinda de Teodora a Sintra, a isso aguilhoada por o professor de primeiras letras, azedado pelo desprezo. Envergonhava-se ele, além de muitas outras vergonhas, que a morgada de Travanca lhe aparecesse em Sintra com a cintura do vestido sobre o estômago, com as ancas desprovidas de balão, com a cara encavernada num chapéu de 1832, que lá chamavam barretina, de imensas orelhas de palha amarelada pelo rodar dos anos. Era-lhe aviltante o caso aos olhos de toda a gente, e especialmente aos de Ifigénia.
Para prevenir esta e outra calamidades, saiu Calisto, caminho de Caçarelhos, quatro dias depois de Brás Lobato, e a fim de encurtar tempo, embarcou no vapor, e do Porto para cima acelerou as jornadas, repousando poucas horas. Contava ele antecipar-se ao mestre-escola. Chegou tarde; mas o coração da esposa estava ainda aberto.
— Tua senhora desmaiou de alegria, primo; — disse-lhe Lopo de Gamboa — estava chorando comigo quando ouvimos a guizalhada da liteira. Muito te quer a nossa santa prima! Boas as fizeste por lá… Olha que o patife do mestre-escola veio contar tudo!
— Já chegou?!
— Hoje às cinco da tarde.
— Que disse?
— Contou que tens lá em Sintra uma mulher teúda e manteúda…