Adelaide, temerosa de algum imprevisto acidente que a desmerecesse no conceito de Vasco, por causa do morgado da Agra, relatou ao pai o diálogo da antevéspera, e a promessa da poesia para a noite seguinte.
O desembargador duvidou do entendimento da filha, antes de acreditar na insânia do seu melhor amigo. Como havia de crer ele no intento desonesto de um homem que lhe emergira a outra filha da voragem? E, crendo, como se comportaria em lanço de tanto melindre?
Meditou, e discretamente resolveu que suas filhas e genro fossem passar alguma temporada da Primavera na sua quinta de Campolide, e se pretextasse a doença de uma neta, para que a saída se fizesse naquele mesmo dia. Pôde mais com o velho a gratidão que a ofensa.
Calisto Elói chegou à hora costumada. Já não entrava à presença do magistrado com a facilidade e lhaneza de outros dias. A sisudeza do semblante arguia o incómodo da consciência. Mais lha inquietava a estudada jovialidade com que Sarmento o recebeu. Antes de perguntar pelas senhoras, lhe disse o velho o motivo da inopinada saída para ares. Calisto passou o restante da noite com os amigos da casa; porém, insolitamente abstraído, concorreu a aumentar a letargia daqueles velhos soporosos, que pareciam ajuntar-se para se narcotizarem, e entrarem emparceirados nas silenciosas regiões da morte.
Fez sensação na assembleia tirar Calisto de uma charuteira de prata um charuto, e baforar colunas de fumo, com uns modos aperalvilhados e impróprios de sua gravidade.