Era já Estio. Os galãs mais ardidos de Lisboa estanceavam por Seteais, por Pisões, e por aquelas várzeas de Colares, a engarrafar lirismo para gastarem por salas nas noites de Inverno.
O primeiro deles que descortinou por entre árvores a formosa brasileira foi alvissarando aos outros a ondina incógnita, que saíra das vagas a buscar camilha de folhagem e boninas entre as fragas da serra da lua.
Começam os agitados monteiros da estranha caça a circunvagarem nas encostas e oiteirinhos que rodeavam a vivenda de Ifigénia. Uns a viam ao sol posto, outros ao arraiar da manhã, e outros, quando ela perpassava por entre áleas de cilindras para uma gruta fechada como concha de pérola.
A presença de Calisto Elói, confundido com os arbustos floridos da casinha misteriosa, aumentou a curiosidade dos indagadores. Uns consideraram esposa do deputado a bela esquiva; outros aventaram hipóteses mais românticas, mas menos honestas. À primeira conjectura opunha-se uma forte razão negativa: se era marido, porque vivia no hotel do Vítor? À segunda conjectura, contraditava outra razão ponderável: se era amante, que descuidado amante era ele, que se encerrava no seu quarto do hotel, durante as noites, — facto averiguado minudenciosamente pelos interessados? O mistério, pelo conseguinte, a nublar-se, e as esporas da curiosidade impaciente a picar os moços ociosos, e os ricaços velhos, que espreitavam, por entre a rede das sebes verdejantes, esta Susana, mais cuidadosa do que a outra, que acendia fogos nos lúbricos juízes de Israel.