Às três horas em ponto, parou uma sege de praça à porta de Calisto Elói de Silos.
O boleeiro subiu ao terceiro andar, perguntando se S. Exa. estava em casa. O morgado arregaçou com o pente as mechas do cabelo, que lhe escondiam porção das escampadas fontes, apertou os cordões do robe de chambre na volta mais airosa da cintura, e desceu ao pátio a receber a visita.
Saltou da sege, amparando-se levemente na mão de Calisto, uma mulher daquelas que Lucifer fazia, quando assaltava no deserto a pudicícia dos Antões, dos Paulos, dos Pacómios e Hilariões.
Era alta e pálida; rutilavam-lhe os olhos como lustrosos azeviches à flor de um busto de marfim, algum tanto emaciado. Calisto maquinalmente levou a mão ao coração: traspassara-lho uma azagaia eléctrica.
— É muita delicadeza da parte de V. Exa. — disse Ifigénia.
— Oh, minha senhora!… — tartamudeou o morgado da Agra, oferecendo-lhe o braço.
— Parece — tornou ela quando iam subindo — que o meu palpite não me enganou…
— O palpite de V. Exa.…
— Sim… eu contava com um cavalheiro no rigor da palavra… Delicadeza igual ao talento, qualidades que raras vezes se conformam. Entraram à sala.
O morgado conduziu Ifigénia ao sofá, e disse com voz tremida:
— A que devo eu a honra desta visita, minha senhora?
— Abreviarei a minha história e a minha pretensão. As suas horas deve-as V. Exa. ao bem da Pátria, e indiscreta fui eu obrigando-o a estar fora do Parlamento a esta hora…