A Queda de um Anjo - Cap. 36: Capítulo 36 Pág. 202 / 207

Recebeu Calisto Elói em Paris a minudenciosa narrativa dos factos acontecidos, e escondeu de Ifigénia a carta de D. Tomásia.

Foi tamanha sua vergonha e ódio, que dali escreveu a Lopo de Gamboa, reagradecendo-lhe o aviso que lhe dera do infame projecto de Teodora; e lhe asseverava que, depois de tão incrível e original desaforo, se considerava viúvo, e nunca mais adiante de seus olhos consentiria semelhante fúria. Ajuntava que, na volta para Portugal, ia requerer divórcio, e separação do casal, se a esse tempo Teodora se não houvesse recolhido à sua casa de Travanca, sem tocar no mínimo dos valores pertencentes ao casal da Agra de Freimas.

Tirante o que, nesta carta, dizia respeito ao aviso enviado para Lisboa, Lopo leu declamatoriamente as ameaças de Calisto, e os epítetos injuriosos com que ele castigava a petulância da mulher. Ao tempo desta leitura, supérflua já era tão rija catapulta para derrubar a virtude de Teodora.

Quase impassivelmente recebeu ela os insultos. Cuidou logo em transferir-se para o seu solar, e repartiu entre o velho Paulo e o seu primo Lopo o cuidado da administração dos seus abastosos vínculos. Ora, o primo Lopo, a fim de esmerar-se na tarefa que lhe era confiada, mudou a sua residência para casa da prima, e cuidou de restituir àquele solar a antiga majestade dos defuntos Figueiroas. Para isto, lhe transmitiu sua prima aquele caixote de peças, que para ali estavam amuadas, desde que o governador da Índia voltara com elas de além-mar, provavelmente adquiridas com tanta honestidade como agora iam ser esbanjadas.





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