Estavam cheias as galerias da Câmara.
Entre as mais formosas, extremava-se a filha do desembargador Sarmento. A pedido de Calisto Elói, fora o abade de Estevães levar as entradas ao magistrado, e oferecer-se a conduzir as senhoras à galeria.
O vistoso coreto das damas exornavam-no, talvez mais que a formosura, algumas senhoras doutas enfrascadas em política, amoráveis Cormenins, que aquilatavam o mérito dos oradores com incontrastável rectidão de juízo e apurado gosto. Lisboa tem dezenas destas senhoras Cormenins.
Não direi que o renome de Calisto atraísse as damas ilustradas; era grande parte neste concurso femeal a esperança de rir. A nomeada do provinciano, bem que favorecida quanto a dotes intelectuais, cobrara fama de coisa extravagante e imprópria desta geração.
Entrou Calisto na sala um pouco mais tarde que o costume, porque fora vestir-se de calça mais cordata em cor e feitio. Não me acoimem de arquivista de insignificâncias. Este pormenor das calças prende mui intimamente com o cataclismo que passa no coração de Barbuda. Aquela alma vai-se transformando à proporção da roupa. Assim como o leitor, à medida que o amor lhe fosse avassalando o peito, escreveria páginas íntimas, ou ainda pior, cartas corruptoras à mulher querida, Calisto, em vez disso, muda de calças.
As damas, que o esperavam vestido conforme a fama lho pintara, desgostaram-se de vê-lo trajado no vulgar desgracioso do comum dos representantes do País.