A Queda de um Anjo - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 86 / 207

Corrido um quarto de hora, fez-se na Câmara o silêncio da subterrânea Pompeia. É que o Dr. Libório ia falar.

— Sr. presidente e senhores deputados da Nação portuguesa! — disse ele. — Vem-nos agora sob a mão assunto, até aqui pretermitido. Pelo que toca e frisa com cadeias pátrias, direi os cinco estigmas que um estilista de fôlego esculpiu nos frontais desses antros: INJUSTIÇA! IMORALIDADE! IMUNDÍCIE! INSULTO! INFERNO!

Inferno, Sr. presidente, inferno dantesco, inferno teológico em que há o ranger de dentes, stridor dentium!

Que é da civilização desta misérrima e tão coitada terra? Quem nos lampeja verdade nesta escureza em que nos estorcemos? Ai! A verdade ainda não matiza de rosicler a alvorada do novo dia. As ideias entre nós estão como flores palpitantes no gomo nascente. Eu me esquivo, Sr. presidente, o lavor de historiar as sucessivas fases que têm percorrido os métodos de aprisoamento. Urge primeiro pregoar a brados que se faz mister funda cauterização na lei. O direito não se estudou ainda em Portugal. Pois que é o direito? No seu todo sintético e como corpo doutrinal, o direito é a ciência da condicionalidade ao fim do homem. Consoante vige e viça o nosso direito de punir, Sr. presidente, o juiz é o delegado de Deus, o carrasco o substituto do anjo S. Miguel.

Calisto Elói pediu a palavra. O orador prosseguiu:

— Sr. presidente, neste país não se atende às bossas.





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