A respeito do último discurso de Calisto Elói, as gazetas governamentais estamparam que a sala da representação nacional nunca tinha sido testemunha de insolências de tamanha rudeza e tão audaciosa ignorância. Os jornais da oposição liberal disseram que o representante de Miranda, à parte as demasias escolares do seu discurso, dera uma útil, bem que severíssima lição, aos meninos que jogueteiam com o País, indo ao santuário das leis bailar em acrobatismos de linguagem, que seriam irrisórios em palestra de estudantes de selecta segunda.
Em casa do desembargador é que o morgado deslumbrou o renome dos fulminadores de catilinárias e filípicas. A numerosa roda do fidalgo legitimista encarava com venerabundo assombro em Calisto Elói. As raças godas, que o não conheciam, concorreram a dar-lhe os emboras a casa de Sarmento. Sangue dos Afonsos e Joões não se dedignava de inventar em Calisto um primo. Todos queriam ter nas artérias sangue de Barbudas. E ele, o genealógico por excelência, modestamente contraditava o empenho de alguns parentes honorários, bem que, de si para si, e para alguns amigos, se ufanava de não carecer de tal parentela para igualar-se barba por barba com os mais antigos titulares em limpeza de sangue.
As expressões laudatórias que mais calaram no ânimo de Calisto Elói disse-as Adelaide. A menina, confessando sua surpresa no Parlamento, foi sincera. Não o julgava tão denodado e destemido em face de gente nova, que parecia acovardar-se diante da coragem de um provinciano algum tanto achamboado.