A Queda de um Anjo - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 78 / 207

Eis que, a súbitas, do coração de Calisto ressalta a primeira faísca de amor!

Conheço que este desastre não se devia contar sem grandes prólogos. Sei que o leitor ficou passado com esta notícia. Grita que a inverosimilhança é flagrante. Não pode de boamente consentir que se lhe desfigure a sisuda fisionomia moral do marido de D. Teodora Figueiroa. Quer que se limpe da fronte deste homem o estigma de um pensamento adúltero. Honrados desejos!

Mas eu não posso! Queria e não posso! Tenho aqui à minha beira o demónio da verdade, inseparável do historiador sincero, o demónio da verdade que não consentiu ao Sr. Alexandre Herculano dizer que Afonso Henriques viu coisas extraordinárias no céu do campo de Ourique, e a mim me não deixa dizer que Calisto Elói não adulterou em pensamento! Estes são os ossos malditos do ofício; esta é a condenação dos infelizes artífices que edificam para a posteridade, e exploram nas cavernas do coração humano os cimentos da sua obra.

Ai! Se Calisto Elói foi de repente assalteado do dragão do amor, como hei-de eu inventar prelúdios e antecedências que a natureza não usou com ele?! Se o homem, espantado, a si mesmo se interrogava, e dizia: «Isto que é?!», como hei-de eu dizer ao leitor o que foi aquilo?!

O que ele sabia e eu sei é que, estando Calisto de Barbuda a jogar a sueca de parceiro com Adelaide, à razão de cruzado novo a partida, a menina passou a sua bolsinha de filigrana para a mão do parceiro, e disse-lhe:

— Administre-me o meu tesouro, Sr. morgado. Tenho aí o meu dote.





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