Pelo que, sendo ela Rainha, e tendo o favor de El-Rei presente, não confiava o Mestre que sua vida estava segura, pois em vida de El-Rei D. Fernando, não sendo agravada dele, o fez prender e o faria matar. Além disto (as seguintes palavras estavam sublinhadas na crónica e emendadas com um proh dolor! da letra de Calisto) muitos dos que se a ele chegaram o deixavam, e se passavam à Rainha, como fez Vasco Porcalho, e Martim Annes de Barbuda, comendadores de sua ordem, e Garcia Peres Craveiro de Alcântara, que para ele se viera.»
O conde entregou a crónica, e disse num tom de aborrido e confuso:
— E então?
— É V. Exa. da progénie desse Barbuda infamado na página eterna de Duarte Nunes?
— Sou — respondeu ufanamente.
— Pois vá em paz, que eu não procedo desses Barbudas. Eu sou o décimo sexto varão de Gonçalo Pero de Barbuda, que morreu em Aljubarrota, na ala dos namorados. Gonçalo era irmão de Martim; mas, ao entrar na batalha, pediu a D. João I que lhe legitimasse um filho natural, para que, no caso de ele perecer, os filhos do irmão tredo lhe não manchassem o solar. Gonçalo morreu, e D. João I cumpriu a vontade do português de lei.
— O que daí infiro — disse sarcasticamente o conde — é que V. Exa. procede de um filho natural.
— A mãe do filho natural era abadessa de Vairão, da família dos Alvins — redarguiu triunfante Calisto.
— Coito danado! — retorquiu o conde.
— Discutamos estes pontos graves — voltou serenamente o morgado da Agra, tomando rapé. — A décima segunda avó de V. Exa., Jerónima Talha, era judia de Sesimbra, e esteve como cuvilheira dos sobrinhos de um Heitor de Barbuda com quem casou.